quarta-feira, 8 de março de 2023

Opinião: Significados versus as profissionais da Engenharia, Agronomia e Geociências

Por Roberta Meneses*

Este dia, tão importante para as mulheres em todo o mundo, tem uma história por trás que remete às lutas trabalhistas, simbolizando as conquistas efetivadas pelas mulheres no século XX, tendo sido oficializada pela Organização das Nações Unidas na década de 1970.

Para a construção dessa data, foi relacionada uma sucessão de acontecimentos. Inicialmente, o caso de 8 de março de 1857, onde 129 operárias morreram carbonizadas em um incêndio de uma fábrica têxtil em Nova York, contudo, foi descartada por ser falsa. No entanto, um outro caso que remonta também a um incêndio que de fato ocorreu em Nova York no dia 25 de março de 1911, vitimando 146 pessoas, das quais 125 eram mulheres.

Vários movimentos, principalmente femininos, tomaram conta dos EUA e Europa desde a segunda metade do século XIX, por melhores condições de trabalho para as mulheres nas fábricas e, por conseguinte, a concessão de direitos trabalhistas e eleitorais, entre outros.

Foi o que ocorreu fortemente em 8 de março de 1917 na Rússia, marcado pelo ciclo revolucionário que derrubou a monarquia czarista. Nesse clima de agitação revolucionária, as mulheres trabalhadoras do setor de tecelagem entraram em greve, no dia 8 de março, e reivindicaram a ajuda dos operários do setor de metalurgia. Essa data entrou para a história como um grande feito de mulheres operárias e também como prenúncio da Revolução Bolchevique.

Após a Segunda Guerra Mundial, o dia 8 de março tornou-se aos poucos o símbolo principal de homenagens às mulheres (em virtude da greve das russas). Também foi associado ao mês de março, a partir de então, o evento do incêndio em Nova York, ocorrido no dia 25, como citado anteriormente.

A partir dos anos 1960, a comemoração do dia 8 de março já tinha se tornado tradicional, mas foi oficializada pela ONU apenas em 1975, quando essa organização declarou o Ano Internacional das Mulheres, como uma ação voltada ao combate das desigualdades e discriminação de gênero em todo mundo. Como parte desses esforços, o dia 8 de março foi oficializado como o Dia Internacional da Mulher.

Assim, esse dia representa muito mais que um simples dia voltado à simples homenagens às mulheres. É um dia voltado à reflexão de como as mulheres são tratadas por nossa sociedade, tanto no convívio afetivo, familiar e social quanto para as questões relacionadas ao mercado de trabalho.

Lamentavelmente, ainda hoje existem casos de abusos sexuais, feminicídios, preconceitos e desigualdades salariais. O preconceito de gênero prejudica as mulheres no mercado de trabalho. As mulheres, no entanto, não têm a sua vida prejudicada somente no mercado de trabalho, uma vez que a violência de gênero, o abandono que muitas sofrem de seu parceiro durante a gravidez e os assédios são realidades que muitas mulheres sofrem.

O 8 de março é um dia para reflexão a respeito de toda a desigualdade e a violência que as mulheres sofrem no Brasil e no mundo. É um momento para combater o silenciamento que existe e que normaliza a desigualdade e as violências sofridas pelas mulheres, além de ser um momento para repensar atitudes e tentar construir uma sociedade sem desigualdade e preconceito de gênero.

Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, as mulheres vêm sendo protagonistas, a cada dia mais, em diversas áreas e não seria diferente na Engenharia, na Agronomia e nas Geociências.

A Engenharia como um todo é uma área estigmatizada como masculina, mas, essa realidade vem mudando à medida que mais mulheres ocupam as cadeiras do curso de engenharia, mas ainda percentualmente baixa a relação das mulheres (em torno de 20%) frente aos homens (em torno de 80%) registrados no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia – CONFEA.

A engenharia transforma projetos e sonhos em realidade. É uma área fundamental para as atividades de pesquisa e produção, contribuindo, assim, para o desenvolvimento de toda a sociedade.

Assim, destacam-se alguns pioneirismos das mulheres profissionais das Engenharia, Agronomia e Geociências em Pernambuco e no Brasil.

Em Pernambuco

  • Engenharia: Esmeraldina Pereira da Silva, 1ª Eng. Civil formada em PE em 1944, foi também diretora da Escola Politécnica de PE da UPE, em 1974 e 1975.
  • Agronomia: Ester Sara Feldmus, 1ª Eng. Agrônoma formada em PE em 1944.
  • Geociências: Zenaide Pessoa de Mello, 1ª Geóloga formada em PE e no Norte/Nordeste em 1961, também da 1ª turma do Curso de Geologia e Geóloga da SUDENE.

No Brasil

  • Engenharia: na Engenharia, temos duas grandes mulheres pioneiras, a primeira, a Edwiges Maria Becker Hom’meil que foi a primeira mulher a se formar em Engenharia no Brasil, na então Escola Polythecnica do Distrito Federal, atual Escola Politécnica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), mais de um século após a criação do primeiro curso de engenharia em 1810 e, a segunda, mais recente, a Enedina Alves Marques, 1ª Eng. Civil formada no Paraná em 1945 e 1ª Engenheira negra do Brasil.
  • Agronomia: Rita de Cássia Rangel de Azevedo Coutinho de Lacerda, 1ª Eng. Agrônoma formada no Rio de Janeiro em 1938.
  • Geociências: Marília Regali, 1ª Geóloga formada em São Paulo em 1959, sendo a 1ª pessoa formada em Geologia (entre homens e mulheres) e a 1ª mulher a ingressar na Petrobrás em 1960, única por 16 anos.

Além dos pioneirismos destacados nas profissões, temos outras Engenheiras que atuam em órgãos governamentais no Estado de Pernambuco e a nível nacional, a exemplo de:

  • Suzana Maria Gicco Montenegro – Eng. Civil e atual e 1ª presidente da APAC – Agência Pernambucana de Águas e Clima.
  • Manuela Marinho – Eng. Civil e ex-presidente da Compesa – Companhia Pernambucana de Saneamento.
  • Fernandha Lafayete Baptista – Eng. Civil e ex-secretária de Infraestrutura e Recursos Hídricos de PE – Seinfra, no governo estadual passado.
  • Simone Rosa – Eng. Civil, professora da UPE e ex-secretária Executiva de Recursos Hídricos da Seinfra, no governo estadual passado.
  • Maria José Sena – professora, Licenciatura em Ciências Agrárias, além de graduação em Medicina Veterinária e em Biologia, sendo a 1ª mulher a assumir o cargo de Reitora nos 100 anos da UFRPE e a 1ª mulher a ocupar esse cargo numa universidade pública em Pernambuco.
  • Luciana Santos – Eng. Eletricista e ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação do atual Governo Federal, foi vice-governadora de PE e prefeita de Olinda.

Somando-se aos órgãos governamentais, temos pioneirismos e destaques de mulheres, profissionais das Engenharias, Agronomia e Geociências junto às entidades de classe ligadas ao nosso Sistema, que estão em posição máxima de liderança em sua entidade, como Diretora Geral e Presidentes, a exemplo de:

  • Roberta Meneses – Eng. Civil e de Segurança do Trabalho, e 1ª Diretora Geral da Mútua-PE – Caixa de Assistência dos Profissionais do Crea-PE.
  • Eloisa Basto Amorim de Moraes – Eng. Civil e 1ª Presidente do Senge-PE – Sindicato dos Engenheiros no Estado de Pernambuco.
  • Giani de Barros Câmara Valeriano – Eng. Civil e Presidente da AESPE – Associação dos Engenheiros de Segurança do Trabalho do Estado de Pernambuco.
  • Michelle Pinheiro Pessoa – Eng. Civil e Presidente do Sinaenco – Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva Regional Pernambuco.
  • Lília Albuquerque da Silva – Geóloga e Presidente da AGP – Associação Profissional dos Geólogos de Pernambuco.
  • Ranjana Yadav de Carvalho – Geóloga e Presidente do IPGeoPE – Instituto Profissional de Geologia de Pernambuco, sendo a 1ª Presidente.

Apesar desse protagonismo da mulher engenheira em nosso Sistema Confea/Creas e Mútua, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Pernambuco – Crea-PE, em seus quase 90 anos de existência, é um dos poucos Creas no país que nunca teve uma mulher na Presidência, atrás até de nossos Estados vizinhos como Alagoas, Paraíba e Rio Grande do Norte, dentre tantos outros pelo país, como Acre, Pará, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Esse cenário, contudo, tende a mudar a partir do ano que vem, dependendo apenas da maioria dos Engenheiros, Agrônomos e Geocientistas de Pernambuco. Vamos em frente!

*Engenheira Civil e de Segurança do Trabalho e diretora Geral da Mútua-PE 

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